Cabocla - Uma direção de arte primorosa

->
Ângela Melmann e sua equipe estabeleceram o ano de 1918 como base para a pesquisa histórica para a produção de arte de Cabocla, mas o trabalho incluiu todo o período que vai do início da década de 10 ao fim da década de 20. “Naquela época, as mudanças eram muito mais demoradas. Agora, de dez em dez de anos, temos mudanças tecnológicas impressionantes, mas, antigamente, as coisas aconteciam bem mais devagar”, conta Ângela, que trabalha junto com Mário Monteiro, o diretor de arte da novela.

A partir de livros de História, fotos de álbuns de família e revistas da época, como as publicações “Fon-fon” e “Careta”, o universo de Cabocla foi criado, sempre permitindo licenças poéticas. “Estamos fazendo ficção, entretenimento. A pesquisa ajuda a não cometermos erros absurdos, mas temos liberdade de trabalhar o poético e a beleza. Diria que este trabalho é realista sem perder a poesia”, diz Ângela.

Um dos maiores desafios da equipe foi reproduzir uma fluoroscopia dos pulmões de Luís Jerônimo (Daniel de Oliveira), o doutorzinho tuberculoso, tipo de exame realizado na época, quando a radiografia ainda não era tão comum. E Ângela tem penado para encontrar a mala de viagem perfeita para a personagem Belinha (Regiane Alves), que deveria ser igual à do filme “Mary Poppins”. “Consegui fazer algumas que são paliativos, mas só vou ficar feliz quando tiver aquela. Já foram feitas várias tentativas, mas até agora todas frustradas. Malas típicas da época não são difíceis de encontrar, mas a gente sempre quer ir um pouco além. Isso é o mais difícil do trabalho”, revela.

Ângela também teve o cuidado de diferenciar as cozinhas, cenários recorrentes na novela e espaços comandados pelas mulheres da época. “O desafio foi fazer com que a cozinha da casa do Felício não fosse igual à do hotel, além de diferenciar a do Justino da do Boanerges, para não virar aquela cozinha padrão que todo mundo tem igual”, diz. Desta forma, os utensílios que aparecem na casa de Felício foram feitos principalmente de barro. No hotel, predominam panelas e objetos de ferro; na fazenda de Boanerges, ágata e barro; e na fazenda de Justino, utensílios de cobre. Apesar de todo esse trabalho, a típica comida da roça que é consumida nas cenas não é feita nas cozinhas cenográficas, mas faz grande sucesso entre o elenco.

Ângela e sua equipe garimparam grande parte dos objetos em antiquários e feiras de troca, em São Paulo, no Rio de Janeiro e na cidade mineira de Tiradentes. Numa de suas idas à capital paulista, ela encontrou um conjunto de porcelana inglesa, com detalhes florais, para a casa de Boanerges (Tony Ramos). “Tem a cara do personagem porque, como ele tem uma mulher e uma filha em casa, eu queria que fosse uma coisa romântica”, diz. Nos quartos das típicas fazendas do interior, não faltam colchões recheados de sapê, roupas de cama de linho ou algodão e o gomil, conjunto de jarra com bacia, usado na época para higiene pessoal.

A escolha dos animais que aparecem em cena também é atribuição da equipe de produção de arte. Galinhas, carneiros, cabritos, cabras, vacas e cavalos fazem parte do cotidiano dos personagens do núcleo rural. A vaca da cabocla Zuca (Vanessa Giácomo) deu trabalho para Ângela. “Estava trabalhando com uma vaca holandesa, mas tive que mudar para uma da raça mista. A holandesa que eu consegui não correspondia às vacas da época”.

Postar um comentário

0 Comentários