JK - Ficção inspirada no real faz minissérie brilhar

-> Galvez, Plácido de Castro e Chico Mendes são heróis amazônicos que valem, por si, uma minissérie ou um filme. É surpreendente, portanto, que a novelista acreana Glória Perez os tenha reunido em apenas 55 capítulos de “Amazônia - de Galvez a Chico Mendes”, produção da TV Globo que encantou os brasileiros de norte ao sul do país ao retratar cem anos da fascinante história do Acre.
“Ela conseguiu uma síntese impossível”, comentou o diretor geral Marcos Schechtman, valorizando a mistura de ficção e realidade escrita pela autora. Segundo ele, é preciso muita competência para desenvolver, com glamour e emoção, uma trama tão densa sem perder a inspiração e a essência do real.
Tudo na minissérie “Amazônia...”, a mais cara já produzida pela Rede Globo, tem números altos - ao todo, foram gravadas três mil cenas no Acre, em Manaus e nos estúdios do Projac no Rio de Janeiro; 200 técnicos e assistentes trabalharam durante um ano ultrapassando seus limites; outras centenas de atores e figurantes representaram e se apaixonaram pelos personagens de uma história ignorada.
Após a exibição entre 1o. de janeiro e 6 de abril, “Amazônia” tornou-se a mídia mais atraente sobre a região. Apesar de algumas críticas radicais, a produção deixou de ser um tema do interesse exclusivo de ambientalistas e cientistas para cair na boca do povo, que, curioso, quis saber mais coisas sobre os personagens que desapareceram nas diferentes fases da dramaturgia. Que fim levou a inquieta Delzuíte depois que trocou o seringal pelos cabarés de Manaus? Onde Galvez morreu? E a noiva do Plácido de Castro, teria casado com o irmão dele, Genesco?
Ficção por ficção, a do povo das ruas transcende, mesmo em tom de novela, podendo assegurar vida longa à minissérie que será vendida a muitos paises e sairá em DVD até meados do ano. Quem não teve condição de ver os capítulos, exibidos tarde da noite na maior parte do país (a partir das 23h30), aguarda com ansiedade o lançamento.
As críticas dos que enxergam omissão e despolitização dos personagens ou que repudiam o glamour numa realidade que sempre esteve tão distante disso não conseguem desfazer o encantamento dos que dispensam detalhes. Ou seja: o destino de “Amazônia...” é brilhar.
Cidades cenográficas
Puerto Alonso, ou Porto Acre, a cidade que abrigou a República do espanhol Galvez no fim do século 19, reviveu às margens do rio Acre. Ali foram gravadas as cenas de guerra com a Bolívia e as romanceadas vidas dos primeiros exploradores da borracha. Ali surgiram Bento e Ritinha, personagens que, por licença poética, puderam ir ao enterro de Chico Mendes, inteiros, cem anos depois.
Aconteceram gravações em cenários reais na Gameleira, no Segundo Distrito da atual Rio Branco, e no seringal Cachoeira em Xapuri. O belo teatro de Manaus, requintada construção da “belle époque” da borracha, também acolheu os atores da primeira fase da minissérie. Mas o grosso das cenas externas foi gravado em cidades (Rio Branco e Xapuri) de mentirinha, construídas na central de produção da Globo (Projac) no Rio de Janeiro.
Nos estúdios operavam-se rápidas mudanças de cenário, conforme o ritmo das gravações. Um mesmo espaço passava, com pequenos arranjos, de quarto de hotel para sala do sindicato ou cozinha dos sogros de Chico Mendes no seringal. Dava para perceber, aqui e ali, um excesso de apetrechos, mas nada que um enquadramento ou movimento de câmera, ou ainda uma iluminação adequada, não pudesse disfarçar. No Projac, a qualquer sinal da direção, uma parafernália se move para criar fantasia ou reproduzir acontecimentos reais. Tudo muito rápido.
Poucas cenas externas foram gravadas longe da central. Uma delas, a do grande mutirão contra a jagunçada, aproveitou um pedaço de floresta no Instituto Juliano Moreira, tradicional abrigo de doentes mentais. Também lá aconteceu a cena em que os seringueiros liderados por Chico Mendes imobilizaram a Polícia Militar cantando o Hino Nacional. Já nas refregas policiais, em que seringueiros acusados de matar o capataz de fazenda Nilão foram presos e torturados, o terreno utilizado foi uma floresta da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.

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